A Guardiões do Mar, organização do Terceiro Setor, é fruto de um extenso processo de identificação, diagnóstico e exploração do território que abraçamos. Desbravando caminhos desde sua oficialização, em 19 de março de 1998, tem marcado sua trajetória com um impacto crescente na sociobiodiversidade dos ecossistemas costeiros e na salvaguarda da Baía de Guanabara, localizada no estado do Rio de Janeiro/Brasil.

Nesta jornada, destacam-se as ações integradas com o objetivo de combater o lixo costeiro e marinho, disseminar práticas sustentáveis e dedicar esforços à conservação e restauração dos manguezais. Nosso compromisso se estende ao fortalecimento de povos tradicionais, fomentando o empreendedorismo e promovendo ativamente o protagonismo juvenil e comunitário.

A Guardiões do Mar tem sido uma força catalisadora desde sua criação, institucionalizando e incubando diversas cooperativas engajadas em reciclagem, pesca responsável e reaproveitamento de resíduos sólidos pós-consumo, incluindo moda e artesanato. Além disso, coordenamos, em colaboração com catadores de material reciclável, duas redes de comercialização que uniram esforços de 12 cooperativas na região da Baía de Guanabara e na Região dos Lagos, gerando emprego e renda para mais de 300 famílias.

Diante da urgência observada em 2012 quanto ao comprometimento da sociedade com o correto descarte de resíduos, abraçamos projetos ambientais com uma abordagem social aguçada. Esse redirecionamento reflete nosso compromisso inabalável em impulsionar práticas sustentáveis e fortalecer comunidades por meio de parcerias colaborativas e iniciativas de empreendedorismo socioeconômico.

A cada passo, continuamos incubando ideias e projetos. Entre 2021 e 2025, estamos tecendo novas narrativas com dez projetos, sendo oito dedicados à preservação e/ou conservação de manguezais, um, para fomento a negócios de impacto para povos tradicionais e um de apoio e fortalecimento ao protagonismo juvenil e comunitário. Estamos presentes em 8 municípios que fazem parte da região hidrográfica da Baía de Guanabara, 3 municípios da Baía de Sepetiba/Ilha Grande e Maricá.

Guiados por um planejamento estratégico e fundamentados em nosso histórico institucional, estabelecemos uma grande meta para a próxima década. De 2021 a 2030, almejamos o plantio de meio milhão de árvores de mangue, abrangendo as três espécies principais na região: mangue branco, preto e vermelho. Essa iniciativa representa nosso compromisso com a conservação ambiental e a promoção da sociobiodiversidade, consolidando nosso papel como guardiões incansáveis dos preciosos ecossistemas costeiros.

Mão levantada em sala de aula

Números que nos orgulham

A Guardiões do Mar atingiu a marca de mais de 42 hectares de manguezais restaurados, realizando o plantio de 126.250 árvores das três espécies de mangue na APA de Guapimirim, que formam uma floresta agora visível no Google Earth. Esse ecossistema representa o derradeiro reduto contínuo de manguezal no estado do Rio de Janeiro. Na região, nos destacamos não apenas por conduzir pesquisas de monitoramento que evidenciam o retorno efetivo da biodiversidade às áreas restauradas, mas também pela nossa contribuição significativa à democratização do conhecimento sobre ambientes costeiros e marinhos.

Promover a sociobiodiversidade e a socioeconomia marinha e costeira, impulsionando ações educacionais, culturais, científicas e de conservação. Contribuir para a inclusão, valorização e proteção das comunidades em situação de vulnerabilidade socioambiental, com foco na sensibilização da juventude por meio de nossos projetos

Transparência, ética, conhecimento, inovação, cidadania, responsabilidade, colaboração, resiliência e escuta atenta.

Com um registro de 54 produções acadêmicas, a Associação impactou mais de 250 mil jovens e beneficiou 8 mil professores por meio de ações de educação ambiental desde sua criação. O impacto vai além, com 175 líderes de comunidades tradicionais sendo capacitados e aplicando esse conhecimento no fomento do Turismo de Base Comunitária na região, a partir da criação de negócios de impacto, pautados em soluções baseadas na natureza.

Buscamos ampliar o impacto por meio da ‘Operação Limpaoca’. Através da concessão de bolsas-auxílio (Pagamento por Serviço Ambiental), 290 catadores de caranguejo e pescadores artesanais foram mobilizadas para limpar os manguezais durante o período do defeso do caranguejo-uçá. Além das 63 toneladas de lixo que foram retiradas de 50 hectares deste ecossistema, os impactos são sentidos nas esferas social e econômica, promovendo mudanças positivas a curto e longo prazo. Atividade que integra o calendário do Núcleo de Gestão Integrada APA/ESEC do ICMBio, tornou-se um modelo replicado pelos Projetos Guapiaçu (REDAGUA) e Do Mangue ao Mar — conduzido pela Guardiões do Mar em parceria com a Transpetro.

Jovem coleta lixo na praia

Nosso trabalho integra os pilares de Conservação (educação ambiental, ações de limpeza e formações contínuas), Restauração (plantio de mudas de mangue com mão de obra local e planejamento participativo), Pesquisa (biologia da conservação e soluções baseadas na natureza, com valorização dos saberes locais), e Educação (em ambientes formais e não formais, com foco na escuta atenta e valorização das comunidades).

Essa abordagem integral visa conservar os manguezais, orientando e fortalecendo as comunidades que ali residem. O diferencial está na contratação de mão de obra local, enraizada no conhecimento profundo e ancestral do ecossistema costeiro, com pescadores, caranguejeiros, quilombolas e grupos da agricultura familiar desempenhando papéis essenciais em atividades de limpeza, restauração e conservação por meio de trocas de saberes e conhecimento.

Atuamos no Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto, utilizando Sistemas de Informações Geográficas (SIG) para analisar ecossistemas costeiros, com ênfase na classificação avançada da cobertura de manguezal. Destacamos nossa expertise na análise espaço-temporal das mudanças na terra, utilizando técnicas avançadas de Sensoriamento Remoto e aprendizado de máquinas para quantificar a dinâmica espacial de manguezais em diferentes estados, abrangendo desde os degradados até os naturais e restaurados. Inclui a estimativa do estoque e sequestro de carbono nos ecossistemas de manguezais, contribuindo para uma gestão mais eficaz desses ambientes essenciais para a biodiversidade e a saúde do planeta.

Mulher vestindo camisa do projeto Redágua na praia com o Cristo redentor ao fundo.

“O que eu sou, eu sou em par”, como canta nosso embaixador e parceiro Lenine.

Atuamos e conectamos redes, a exemplo da cocriação da RENAMAN (Rede Nacional de Manguezais), da Rede Litoral Norte de São Paulo de Manguezais, da REDAGUA (Rede Águas da Guanabara, em parceria com os Projetos Coral Vivo, Guapiaçu, Meros do Brasil e UÇÁ, todos patrocinados pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental) e no apoio à criação e manutenção ativa da Rede ‘Nós da Guanabara’ (composta por pescadores artesanais, catadores de caranguejo, quilombolas e agricultores familiares) no recôncavo da Guanabara até os dias atuais. Coordena o Subcomitê Leste da Bacia Hidrográfica da Baía de Guanabara e participa do Movimento Viva Água – Baía de Guanabara (capitaneado pela Fundação Boticário, SEA, INEA e FIRJAN). Atuamos de forma participativa com as biorregiões da Serra da Estrela, da REGUA e da APA de Guapi-Mirim.

A ONG Guardiões do Mar também é precursora em iniciativas de educação ambiental inclusiva, assegurando acessibilidade para pessoas com necessidades especiais e reconhecida por meio de termo de cooperação técnica com o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) e Escola de Inclusão: Labs-STEAM da UFF (Universidade Federal Fluminense), intermediada pela equipe de acessibilidade do Coletivo Ateliê do Encontro.

Homem e mulher plantam árvore em área de mangue

Conectados a outros grandes centros de pesquisa mundial, estamos conduzindo — em colaboração com a The Rufford Foundation (Inglaterra) e com as Universidades Federais do Espírito Santo e do Rio Grande do Norte — uma pesquisa pioneira intitulada “Influência da Poluição Plástica nos Ecossistemas de Manguezais do Sudeste do Brasil”. Essa iniciativa visa examinar o impacto dos resíduos sólidos na estrutura dos manguezais, bem como investigar a presença de microplásticos no solo destas florestas.

Somos parceiros oficiais no Brasil para a Década das Nações Unidas para Restauração de Ecossistemas (2021-2030). O movimento, liderado pelo Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização da ONU para a Alimentação e Agricultura (FAO), passa não só por ações de restauração, mas por todo um planejamento estratégico em andamento, que visa preparar a juventude e lideranças tradicionais e comunitárias, em assuntos como emergências climáticas, racismo ambiental, resiliência e transformação socioambiental.

Participa também como signatária da Rede Oceano Limpo, um projeto fruto de uma parceria entre a Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano (IO-USP/IEA-USP) com o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) e do movimento Plastic No Thanks, conectado a outras grandes coalizões internacionais para a aprovação de um acordo que objetiva reduzir a poluição de embalagens plásticas no planeta. E isso é só o começo!

Vista de paisagem de um mangue com área replantada

Destaques incluem a menção pela Plataforma EduCares do Ministério do Meio Ambiente em 2014, com as ações ‘Moeda Verde’ e ‘Operação LIMPAOCA’, além das conquistas dos prestigiosos Prêmio Hugo Werneck (2017) e Prêmio Firjan Ambiental (2020). Alcançou o segundo lugar no Prêmio da Editora Abril na categoria Comunidades em 2003 e, entre 2006 e 2008, as lideranças das cooperativas, instituídas e incubadas pela ONG Guardiões do Mar, mantiveram-se entre os três primeiros lugares no Prêmio SEBRAE Mulher Empreendedora.

Homem recolhe lixo em área de mangue

Por meio da imagem capturada pelo nosso fotógrafo Rodrigo Campanário durante a Operação LimpaOca, que registrou o pescador Paulo Silva coletando resíduos nos manguezais da Baía de Guanabara, tivemos a honra de sermos finalistas na oitava edição do Mangrove Photography Awards, na categoria “Manguezal e Humanos”.

Homem exibe carcaça de antigo aparelho de tv encontrada em mangue

Lenine

Lenine – Trip Transformadores

Fernanda Abreu

Projeto UÇÁ – Guanabarear – Fernanda Abreu

George Israel

Projeto UÇA – Guanabarear – Pedro Belga

Linha do tempo

Reconhecimento do terreno

Geração de renda

Reciclagem de resíduos

Conservação de ecossistemas costeiros

Década da restauração e cultura oceânica

Desde sua origem, a Guardiões do Mar atua ativamente no combate ao lixo costeiro. Iniciamos em 2001 com a limpeza de manguezais, envolvendo catadores e pescadores na coleta, triagem e descarte adequado de resíduos sólidos retirados da Ilha de Itaoca, em São Gonçalo. Essa iniciativa se estendeu para abranger os limites da Área de Proteção Ambiental de Guapi-Mirim e a Estação Ecológica da Guanabara. Expandimos para a economia solidária voltada para o reaproveitamento de resíduos pós-consumo de 2003 a 2008 e, de 2007 a 2012, ampliamos nosso alcance ao atuar diretamente nos geradores de resíduos, criando e incubando cooperativas de catadores de material reciclável. Essas cooperativas, fundadas ou legalizadas, coletaram aproximadamente 35 mil toneladas, pré-beneficiaram e comercializaram no mercado de reciclagem, contribuindo para a redução da pressão sobre o meio ambiente e gerando renda para mais de 300 famílias.

Em 2012, conscientes dos problemas enfrentados pelos manguezais do recôncavo da Guanabara devido ao descarte de resíduos, lançamos o Projeto UÇÁ para restauração e conservação dessas áreas e, desde então, temos atuado na incubação de projetos socioambientais centrados no protagonismo comunitário e, especialmente, na participação ativa dos jovens.

Nesse âmbito, se destaca o Projeto EDUC (2017/2024), que promove educação ambiental em oito comunidades de Duque de Caxias e introduziu o Coletivo Ambiental Mirim (10 a 12 anos); o pioneiro Ecoclube da Baixada Fluminense (15 a 17 anos); e o coletivo de Jovens Agentes Ambientais (18 a 24 anos), que munidos de triciclos adaptados, lideram a coleta de resíduos porta a porta e recebem bolsa-auxílio. O Projeto EDUC utiliza a moeda verde EDUCoin para incentivar a troca de resíduos por produtos no Bazar Verde, realizado em escolas e praças públicas. Além disso, a atuação com o protagonismo jovem destaca-se no Projeto Do Mangue ao Mar (2022/2025), com a elaboração do PEA – CoaLiMMAR, um programa de educação ambiental em parceria com as secretarias de Meio ambiente e Educação de cinco municípios na Baía de Guanabara e Baía de Sepetiba.