Andresse Maria Gnoatto, Carolina Waite, Renato Carreira
A recente crise no abastecimento do Sistema Imunana-Laranjal despertou preocupações quanto à qualidade do pescado na Baía de Guanabara, podendo afetar diretamente a cadeia produtiva e econômica dos pescadores locais. Diante desse cenário, é crucial fornecer esclarecimentos embasados cientificamente sobre a presença e os efeitos sobre a biota – organismos vivos de uma localidade ou ecossistema – do tolueno, um contaminante identificado a montante da captação de água do referido sistema.
O tolueno é um líquido incolor, de odor característico e volátil, ou seja, uma substância que tem uma grande tendência de passar do estado líquido ao estado de vapor. O vapor produzido pelo tolueno é irritante e inflamável, sendo um produto classificado como classe 3. É um dos constituintes do petróleo, compondo o grupo de hidrocarbonetos voláteis chamados de BTEX (benzendo, etil-benzeno, tolueno e xilenos). Assim, o tolueno é encontrado em produtos petroquímicos, como a gasolina, sendo também usado como solvente para fazer tintas, colas, revestimentos, removedores de manchas, e como matéria prima na fabricação de plásticos (poliuretano) e de borracha. Informações detalhadas sobre o tolueno podem ser encontradas na ficha de informação de produto químico, disponível aqui.
O tolueno é um produto tóxico e inflamável, e a sua presença na água em concentrações elevadas representa uma ameaça para a vida marinha e para o ser humano. As vias de exposição principais são a inalação, o contato dérmico e a ingestão (no caso de animais aquáticos, principalmente). Os efeitos biológicos no homem e em animais se manifestam principalmente no sistema nervoso central, sendo em doses baixas registrados náusea, tontura, desorientação e queda da imunidade, entre muitos outros, com efeitos revertidos ao cessar a exposição. Em casos de exposição a concentrações extremas, pode haver a morte do organismo. No entanto, os estudos científicos confirmam que, por ser um composto volátil, o tolueno não bioacumula, e portanto a exposição a tolueno não afeta a qualidade do pescado em áreas contaminadas.
Em resumo, ressaltamos que os efeitos da exposição ao tolueno na água são reversíveis e seus resíduos não se acumulam nos peixes ou na cadeia alimentar aquática. Além disso, os derramamentos de tolueno são limitados à área imediata devido à sua rápida degradação em ambientes oxigenados, por serem voláteis, como explicamos acima.
Precisamos também enfatizar que ainda não existe relação confirmada da mortandade de peixes na Baía de Guanabara com a presença do tolueno e, quaisquer que sejam os motivos, peixes encontrados mortos não devem ser consumidos.
Andresse Maria Gnoatto, oceanógrafa, ONG Guardiões do Mar
Drª Carolina Waite, bióloga marinha, ONG Guardiões do Mar
Prof. Renato Carreira, oceanógrafo. Laboratório de Estudos Marinhos e Ambientais (LabMAM), Dep Quimica, PUC-Rio